Oração no início do dia 6 de março
De que maneira se pode aceitar o convite à conversão que Jesus nos faz também nesta Quaresma? De que maneira realizar uma séria mudança de vida? Em primeiro lugar, é preciso abrir o coração às mensagens comovedoras da liturgia. O período que prepara para a Páscoa representa um providencial dom do Senhor e uma preciosa possibilidade para se aproximar d'Ele, voltando a si e pondo-se à escuta das suas sugestões interiores.Há cristãos que pensam que podem dispensar este constante esforço espiritual, porque não sentem a urgência de se confrontarem com a verdade do Evangelho. Eles procuram esvaziar e tornar inofensivas, para que não perturbem o seu modo de viver, palavras como: "Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam" (Lc 6, 27). Estas palavras, para estas pessoas, ressoam, como nunca, difíceis de serem aceites e praticadas em coerentes comportamentos de vida. De facto, são palavras que, se forem tomadas a sério, obrigam a uma conversão radical. Ao contrário, quando somos ofendidos e feridos, a tentação é ceder aos mecanismos psicológicos da autocompaixão e da vingança, ignorando o convite de Jesus a amar o próprio inimigo. Contudo, as vicissitudes humanas de cada dia põem em relevo, com grande evidência, o modo como o perdão e a reconciliação sejam irrenunciáveis para realizar uma real renovação pessoal e social¹. Isto é válido tanto nas relações interpessoais, como nas relações entre comunidades e nações. (João Paulo II, mensagem para a quaresma de 2001)
¹ O perdão ao qual o papa se referia não é o que é o mesmo que passar pano, mas o que está dentro dos parâmetros divinos do perdão:
O perdão não implica esquecimento. Antes, mesmo que haja algo que de forma alguma pode ser negado, relativizado ou dissimulado, todavia podemos perdoar. Mesmo que haja algo que jamais deve ser tolerado, justificado ou desculpado, todavia podemos perdoar. Mesmo quando houver algo que por nenhum motivo devemos permitir-nos esquecer, todavia podemos perdoar. O perdão livre e sincero é uma grandeza que reflete a imensidão do perdão divino. Se o perdão é gratuito, então pode-se perdoar até a quem resiste ao arrependimento e é incapaz de pedir perdão.
[...]
a justiça procura-se de modo adequado só por amor à própria justiça, por respeito das vítimas, para evitar novos crimes e visando preservar o bem comum, não como a suposta descarga do próprio rancor. O perdão é precisamente o que permite buscar a justiça sem cair no círculo vicioso da vingança nem na injustiça do esquecimento. (Francisco, Fratelli Tutti, 250 e 252)