A quarta maneira pela qual os programas de extermínio anticomunistas moldaram o mundo é que eles deformaram o movimento socialista mundial. Muitos dos grupos de esquerda globais que sobreviveram ao século XX decidiram que precisavam empregar a violência e defender zelosamente o poder ou enfrentar a aniquilação. Quando viram os assassinatos em massa ocorrendo nesses países, isso os mudou. Talvez os cidadãos americanos não estivessem prestando muita atenção ao que aconteceu na Guatemala ou na Indonésia. Mas outros esquerdistas ao redor do mundo certamente estavam observando. Quando o maior Partido Comunista do mundo, sem exército ou controle ditatorial de um país, foi massacrado, um por um, sem consequências para os assassinos, muitas pessoas ao redor do mundo tiraram lições disso, com consequências graves.
Essa foi outra pergunta muito difícil que eu tive que fazer aos meus entrevistados, especialmente os esquerdistas do Sudeste Asiático e da América Latina. Quando começávamos a discutir os velhos debates entre revolução pacífica e revolução armada; entre marxismo radical e socialismo democrático, eu perguntava:
"Quem estava certo?"
Na Guatemala, foi Árbenz ou Che quem teve a abordagem certa? Ou na Indonésia, quando Mao alertou Aidit de que o PKI deveria se armar, e eles não o fizeram? No Chile, foram os jovens revolucionários do MIR que estavam certos naqueles debates universitários, ou o Partido Comunista Chileno, mais disciplinado e moderado?
A maioria das pessoas com quem conversei, que estavam politicamente envolvidas naquela época, acreditava fervorosamente em uma abordagem não violenta, em uma mudança gradual, pacífica e democrática. Muitas vezes, não tinham apreço pelos sistemas estabelecidos por pessoas como Mao. Mas sabiam que seu lado havia perdido o debate, porque muitos de seus amigos estavam mortos. Frequentemente admitiam, sem hesitação ou prazer, que os linha-dura estavam certos. O partido desarmado de Aidit não sobreviveu. O socialismo democrático de Allende não era permitido, independentemente da détente entre os soviéticos e Washington.
Olhando dessa forma, os maiores perdedores do século XX foram aqueles que acreditaram com muita sinceridade na existência de uma ordem internacional liberal, aqueles que confiaram demais na democracia, ou demais no que os Estados Unidos diziam apoiar, em vez do que realmente apoiavam — no que os países ricos diziam, em vez do que faziam. Esse grupo foi aniquilado.
- Vincent Bevins, O Método Jacarta: A Cruzada Anticomunista de Washington e o Programa de Assassinatos em Massa que Moldou Nosso Mundo
@austra_lopiteco