Charles Lindberg
Sobre a atual questão Oruam envolvendo militantes e políticos de esquerda: uma questão de determinismo dialético
Penso que há uma imensa histeria na esquerda envolvendo um assunto delicado e complexo de forma irresponsável e infantil. Tentarei abordar a questão de todos os ângulos que posso, pois penso que há muito ruído nessa discussão.
Antes de tudo, pra quem não sabe: Oruam é um rapper, do tipo que só faz sucesso porque já tinha muito dinheiro antes de começar a carreira, e, neste caso em particular, porque é filho de Marcinho VP, um dos chefes do Comando Vermelho, preso desde 1996, e sobrinho de Elias Maluco, também chefe do tráfico e notório assassino falecido em 2020. Oruam é criticado por manifestações públicas em defesa de seu pai e seu tio, ambos homicidas violentos.
Quero frisar que Oruam deve ser considerado um ADOLESCENTE, ou "jovem adulto", que quer dizer basicamente a mesma coisa. Este ano, ele tem 24 anos, mas começou a carreira aos 21. Muito jovem, idiota (como todo jovem, sem exceção), liberal, despolitizado, numa família criminosa e muito rico (provavelmente dinheiro do crime). Para os propósitos desta discussão, é importante reconhecer que jovem de 24 anos tem MENTALIDADE DE ADOLESCENTE, principalmente os homens, o que não é exclusivo de Oruam. Podem clamar que ele deveria ter mais responsabilidade, vou concordar, mas a verdade é essa. Isto não é para isentá-lo das merdas que diz, mas para explicá-las, o que é importante para a questão.
Pois bem. Esse ADOLESCENTE, que se tornou nacionalmente famoso ainda muito jovem, e deslumbrado pelo dinheiro (nada estranho aqui), decidiu esta semana visitar uma mãe que tinha acabado de PERDER UM FILHO ASSASSINADO DE GRAÇA PELA POLÍCIA MILITAR NUMA FESTA DE SÃO JOÃO. A bandidagem policial, com aval do Estado, não é nenhuma novidade para o brasileiro. No Rio de Janeiro, então, os massacres policiais são praticamente rotineiros. Nesta ocasião, Oruam apareceu emprestando sua notoriedade para cobrar publicamente a Justiça pela morte do jovem Herus.
Vendo essa cena, seus fãs e seguidores (obviamente) aplaudiram e incentivaram na Internet, e um cidadão (qualquer, não importa quem) sugeriu que seria muito bom se ele estudasse e se organizasse politicamente.
Pronto. Eis o pomo da discórdia. A pergunta é: esse cidadão falou algum absurdo?
Então. Oruam republicou esse tweet perguntando: "Oq eu preciso fazer ?". Centenas de pessoas responderam. E por isso estão sendo esculachadas de um extremo a outro do espectro político.
Dois pontos: 1. Oruam não é nem de longe uma figura irrelevante, visto que tem vídeos musicais no YouTube com mais de 150 milhões de visualizações. 2. Sim, ele pode estar querendo se promover comercialmente. Dito isso, eu quero sugerir que, apesar de tudo o que sabemos sobre esse cidadão, goste dele ou não (eu pessoalmente NÃO GOSTO), deixemos o cinismo de lado por um minuto e imaginemos que as outras pessoas também têm individualidades, subjetividades, vontades e aspirações reais, e que, às vezes, quando as pessoas falam certas coisas, elas realmente estão querendo dizer aquelas coisas, e nem tudo se resume a sociedade do espetáculo. Podemos assumir essas premissas? Se não, abandone o texto aqui e me xingue nos comentários.
Vejam o tweet do Oruam que iniciou essa discórdia: "O que devo fazer?". Simples. Nenhuma sugestão, nenhum deboche, nenhuma brincadeira, nenhuma prepotência. Apenas uma única pergunta, de cuja honestidade nós não temos nenhuma boa razão para duvidar. Aí eu lhe pergunto: Por que NÃO deveríamos respondê-la? Se um cidadão influente demonstra interesse, mesmo que marginal, pela politização, por que nós NÃO estenderíamos a mão para dialogar? Essa noção é ABSURDA pra mim.
Jones Manoel, Gustavo Gaiofato, Chavoso da USP, Paulo Galo e, mais notoriamente, Érika Hilton, estão entre as pessoas que responderam o rapper. Até agora, TODAS as críticas desse gesto se resumem a:
1. Ele é filho de bandido
2. Ele é apologista de bandido
3. Ele é burro
4. Ele só quer se promover
Obviamente o primeiro e terceiro pontos são puro achincalhe, estúpidos, racistas e, portanto, irrelevantes. O quarto é igualmente irrelevante quando você deixa de lado o cinismo. O único ponto válido é o segundo. E aqui, quero lembrar de quem estamos falando: um jovem idiota e despolitizado, filho de uma família criminosa, liberal e rico. Eu quero, portanto, sugerir a noção absurda de que ele TALVEZ PUDESSE MUDAR, e que aquela pergunta poderia indicar que — é loucura, eu sei — talvez QUEIRA MUDAR. Quem sabe, assim, um cara cuja família veio da favela (por mais que ele eventualmente já não more mais lá) possa porventura, sei lá, se importar genuinamente com a condição de vida das pessoas que ele conhece diretamente, sabe?
Então, se isso cabe perfeitamente no reino das possibilidades, POR QUE DIABOS nós ignoraríamos essa pergunta? O que ele JÁ FEZ foi assumir uma posição de liderança. Carregou uma multidão consigo, trouxe visibilidade para um crime da Polícia, fez uma manifestação política pública. Esse cidadão está SE PROPONDO A SER UM LÍDER, e não sou eu nem você que vai impedi-lo. Ele tem milhões de seguidores e seguirá aparecendo na mídia, fazendo e falando o que quiser. Dizem que ele está sendo ou deve ser investigado por ligação com o crime organizado (lavagem de dinheiro), e eu digo que seja. Mas nós não podemos presumir que o cara é bandido enquanto não houver condenação, e, até lá, ele seguirá se manifestando. Então, de novo, POR QUE NÃO deveríamos responder à sua pergunta?
Penso que Érika Hilton fez bem em respondê-lo e se dispor a se aproximar. É uma deputada federal, transmite legitimidade, seriedade e confiabilidade, e é uma das mais competentes do PSOL. É exatamente o tipo de pessoa que pode contribuir e ajudar a orientar alguém como Oruam para iniciar uma verdadeira educação e trabalho políticos — SE ELE ASSIM GENUINAMENTE DESEJAR —; além de que ela não estaria fazendo nada estranho ao cargo que detém.
Penso que Humberto Matos fez mal ao associar Oruam e Poze do Rodo a "futuros revolucionários" (ainda que não o tenha afirmado diretamente, o sentido ficou bem claro). Não podemos ficar torcendo nem depositar esperanças políticas num cidadão como Oruam, ou fazer qualquer apologia das merdas que diz. Eu certamente não sairei por aí defendendo seu trabalho, sua música, suas homenagens a criminosos, seu direito de falar merda etc. Mas isso não significa que vou hostilizar e esculachar os camaradas que estão tentando dialogar com um ator político relevante (não adianta tapar o Sol com peneira) que expressamente PEDIU POR INSTRUÇÃO.
Penso que é nosso DEVER como militantes políticos revolucionários INSTRUIR o povo.
Penso que é ridículo querer jogar a questão para debaixo do tapete como se ele fosse sumir ao ser ignorado. Não adianta dizer que "geral odeia Oruam", isso é simplesmente falso. 100 milhões de visualizações em um vídeo musical de menos de um ano não é coisa pouca. O CV não tem 100 milhões de membros. O Brasil só tem 200 milhões de pessoas. Oruam tem 100 milhões de visualizações porque pessoas gostam de Oruam.
Penso que é possível que Oruam mude para melhor, como também é possível que não mude. O que não significa que não devemos tentar influenciá-lo.
Penso que, deixado de lado, esse menino pode vir a se tornar líder criminoso. Como disse, líder ele já está sendo. Se ele tiver envolvimento nos negócios do CV, então já será um líder E criminoso. Que legal seria, né? Certamente é o que todos preferem.
Penso que TODAS as pessoas têm direito à educação, à instrução, à politização, e TODAS as pessoas têm potencial político e capacidade de aprender.
Penso que o MBL está querendo jogar um Xadrez 4D pra jogar os eventuais crimes de Oruam no colo da esquerda, e é preciso ter muito cuidado para não cair nessa armadilha. Mas quero frisar que o MBL não arquitetou o assassinato de Herus pela PM e não planejou que Oruam visitasse a mãe enlutada e não pediu que Oruam fizesse uma manifestação política e procurasse instrução. Nem tudo no mundo é plano do MBL. Relações sociais são erráticas pra caralho.
Enfim, penso que seria legal se geral BAIXASSE A BOLA nas críticas infundadas aos camaradas que estenderam a mão para Oruam. Que não partilhasse de ofensas racistas e discriminatórias contra cidadãos periféricos. Que tivesse muito cuidado e clareza em diferenciar a pessoa Oruam das merdas que ele diz, e não pulasse na frente da bala para defendê-lo das críticas justas. Deve-se pressionar as pessoas por conduta, não pelo que elas são.
Se você leu na íntegra, sinta-se convidado para discutir a sério esta questão, se assim desejar.
Aos iletrados incapazes de ler textos com mais de quatro parágrafos, podem me xingar à vontade. Sinto muito pela sua educação escolar deficitária, é uma mazela de muitos brasileiros.
À pergunta de Oruam: Lenin tem um livro chamado "O que fazer?"
@austra_lopiteco
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Altbot
in reply to Austra lo Piteco • • •A imagem mostra uma captura de tela de uma conversa de tweets em português. No topo, há um tweet do usuário "ORUAM 22" com o nome de usuário "[@]mauro_davi6" e a data "33 min" atrás. O tweet diz: "Oq eu preciso fazer?".
Abaixo, há um tweet de "Alisson Matos" com o nome de usuário "[@]alissonfeijau" e a data "6h" atrás. Este tweet é uma resposta a "[@]BedeBarbara" e diz: "Seria muito bom pra vida dele e pra comunidade, se ele estudasse e se organizasse politicamente pra uma maior força da população e representatividade. Aí o sistema chora."
O fundo do tweet é escuro, e os textos são brancos, com o nome do usuário e a data em cinza claro. A imagem também inclui um ícone de um jogador de baralho e um verificação azul ao lado do nome do usuário "ORUAM 22", indicando que o usuário é verificado.
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Abaixo, há um tweet de "Alisson Matos" com o nome de usuário "[@]alissonfeijau" e a data "6h" atrás. Este tweet é uma resposta a "[@]BedeBarbara" e diz: "Seria muito bom pra vida dele e pra comunidade, se ele estudasse e se organizasse politicamente pra uma maior força da população e representatividade. Aí o sistema chora."
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