Alexandre Vasilenskas:
"Mujica foi um líder contraditório - tão contraditório como seu próprio país - um estado tampão criado para resolver disputas fronteiriças entre Brasil e Argentina que vive basicamente de movimentações financeiras e turismo.
No Uruguai atual a esquerda não é muito de esquerda e a direita idem... o país é quase a utopia de autores centristas de sucesso dos anos 90 como Giddens.
Os tupamaros foram uma guerrilha romântica mas também polêmica - um dos primeiros grupos a reivindicarem o "manual do guerrilheiro urbano" de Mariguella, iniciaram suas atividades quando o país ainda era uma democracia liberal e provocaram em resposta uma ditadura militar bastante brutal.
Mujica enquanto membro da luta armada foi um herói - ficou anos confinado em um buraco úmido mas saiu do cárcere com disposição para a luta.
A Frente Ampla - agrupamento de centro-esquerda que inclui o Partido Comunista e a antiga guerrilha entre outros grupos menores, modernizou o país instalando um estado de bem estar social modesto mas eficiente além de avanços como serem o primeiro país a ter legalizado a maconha (e o aborto).
Mas também foi o governante que antagonizou Cuba e Venezuela visivelmente fazendo um bloco com governos estilo Boric no Chile e Lula no Brasil.
E suas posições estavam visivelmente piorando a medida que ia envelhecendo.
Seu estilo simples era um valor onde ex-dirigentes sindicais gostam de tomar whiskys caros enquanto agradam o mercado financeiro mas também foi altamente fetichizado por setores médios despolitizados.
Pessoalmente acho que o saldo de sua existência foi positivo no geral embora não deva ser idealizado.
Que a terra lhe seja leve..."