A truculência de Trump 2.0. destrói alguns lugares comuns da análise política convencional.
Tomar na marra a Groenlândia por quê? Ora, porque é rica em petróleo! O mesmo petróleo que muitos, inclusive na esquerda, diziam ser obsoleto e incapaz de explicar qualquer movimento da geopolítica contemporânea, a despeito das evidências, como a Noruega explorando o Ártico ou o próprio Trump admitindo que queriam derrubar Maduro pelo petróleo venezuelano.
Por que usar as tarifas como arma? Porque a indústria importa -- e muito! --, ainda mais numa era de concorrência militar e tecnológica crescente, o que vai contra todo o discurso da economia pós-industrial e baseada em serviços que muitos proclamavam ser o ideal até mesmo para nações como o Brasil.
A imposição de critérios anti-"woke", revertendo a tendência do "neoliberalismo progressista", é seguida bovinamente por todas as Big Techs, até mesmo antigas campeãs da "diversidade" e do corretismo político, como Google e Microsoft - veja que até o filantropo Bill Gates saiu em elogios para Elon Musk. Ou seja: o Estado consegue ter papel dirigente e conduzir até mesmo os valores de sua sociedade, um grande contraponto a tudo que a ideologia da globalização noventista nos ensinou.
Em vez de encarar tal momento perigoso e até mesmo fascistoide como uma marcha pra trás da História, seria mais prudente considerar que os anos 90 e 2000 é que foram atípicos, frutos de uma conjuntura de unipolaridade fadada a não durar muito. O interregno gerou muitas ilusões de "aldeia global" pacificada pelo multilateralismo da pós-política; tudo isso agora são cacos. Como diria uma canção de um grupo "one-hit wonder" dos anos 80: "and now you've given me nothing but shattered dreams".
Via Diogo Fagundes