Tenho falado desde a eleição, o que estamos vendo nos EUA é uma revolução cultural, tão profunda quanto a chinesa, mas de cunho ancap.
Trump no poder: não é erro, é ensaio
Humilhação a Zelensky na Casa Branca foi episódio inserido no contexto de um projeto político de reconfiguração do poder
Agora, porém, o império muda de rumo. Trump e Musk não querem apenas desmantelar o Estado americano. Querem redesenhar sua função. Estão construindo um modelo, um experimento que poderá ser replicado onde for conveniente. O que acontece hoje nos Estados Unidos não é uma anomalia, nem um erro de percurso. É um ensaio. E a intenção é clara – transformar a destruição do serviço público em um espetáculo bem-sucedido, pronto para ser exportado.
A destruição do Estado como método político não é uma inovação.
Eles não defendem a abolição do Estado, mas sua redução a uma ferramenta exclusivamente voltada aos interesses privados e à repressão. Não há um objetivo claro de construção de uma nova ordem pública – apenas a eliminação progressiva do que ainda resta de bem comum.
O DOGE (Departamento de Eficiência Governamental), a nova máquina de desmonte federal, não busca apenas cortar. Busca humilhar. Expor servidores públicos como parasitas, transformar cortes de orçamento em trending topics e vender a destruição como uma libertação.
Essa lógica, que combina choque econômico com guerra cultural, não se restringe aos Estados Unidos. Em 2019, durante um jantar em Washington, Bolsonaro declarou: “O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer.” A fala, que à época poderia parecer apenas mais uma bravata, condensava a essência do projeto bolsonarista. O Brasil, sob sua ótica, não precisava de políticas públicas, mas de uma purificação – um expurgo ideológico, administrativo e simbólico. O método era o mesmo que agora se vê nos Estados Unidos: primeiro, arrasar. Depois, apresentar o próprio caos como justificativa para entregar as sobras ao mercado.
austra_lopiteco
in reply to Austra lo Piteco • • •Ainda sobre a revolução cultural nos EUA:
Piero Leiner:
Até agora 90% do Trump foi infowar. Esse teatro de operações de ontem também pode ter sido isso. Objetivo: estressar Zelensky até ele abrir o bico: "fui um Puppet do 'Deep State' e a Ucrânia fez proxy war contra a Rússia". É disso que Trump precisa para passar o rodo no resta da máquina democrata do Pentágono usando a própria "institucionalidade" dos EUA (e assim só sobrar a dele próprio - não tem nada de "acabar" com o 'Deep State' como ele diz). Só que Zelensky prefere dar a última grama de mineral e trigo do que dizer isso, já que, do outro lado, tem uma tonelada de arquivos que botariam ele num cenário à Sadam Houssein. Coitada da Ucrânia, que isso sirva de exemplo para quem curte uma aliança dessas com os EUA.