Cesar Benjamin:
"IGNÁCIO RANGEL
Na década de 1980 resolvi estudar a sério o pensamento de Ignácio Rangel. Vi que era uma missão quase impossível. Ele não chegou a escrever nenhuma obra grande. Seus pequenos livros e suas centenas de artigos estavam dispersos e inacessíveis.
Começou aí meu esforço que culminou na organização e edição dos dois grandes volumes das Obras Reunidas do mestre, uns vinte anos depois. Só isso já justificaria a minha atividade editorial. Ludmila Rangel, filha dele, foi uma parceira querida neste esforço. Muitas outras pessoas ajudaram, enviando textos.
Homem de esquerda ao longo de toda a vida, foi autodidata e nunca seguiu escolas. Com uma inteligência desconcertante, construiu um quadro analítico próprio, diferente de todas as correntes de pensamento consagradas. Enfrentou sozinho o debate. Usou de forma extremamente criativa ideias de Adam Smith, Karl Marx, John M. Keynes, Nicolai Kondratiev e Joseph Schumpeter.
Essa independência custou-lhe considerável solidão intelectual e tornou mais difícil a difusão de sua obra.
No centenário de seu nascimento, eu, Marcio Henrique Monteiro de Castro e Ricardo Bielschowski redigimos um balanço da obra deste que foi o mais original intérprete da economia brasileira, destacando cinco aspectos centrais: a hipótese da dualidade básica, os estudos sobre a dinâmica capitalista, a reinterpretação da inflação brasileira, o debate sobre a questão agrária e o papel do Estado na economia.
Na quarentena, vejo que as vendas das Obras Reunidas aumentaram. Nem tudo está perdido.
O artigo “Notas sobre a atualidade do pensamento de Ignácio Rangel” está no link. Eu incluí o texto no meu livro recente, "Ensaios brasileiros".
Abraços,
Cesar Benjamin
contrapontoeditora.com.br/arti… "