João Pedro Roque:
O Breno Altman no vídeo recente dele, "O Governo Lula é neoliberal"?, trouxe à tona alguns exemplos históricos para sustentar sua argumentação e sua posição perante à conjuntura. Brasil de 1954, Rússia de 1917.
Eu gosto da iniciativa, mas acho que existem casos concretos mais ilustrativos. Eu estou convencido de que nossa conjuntura casa melhor com um outro exemplo. Muito mais do que a Rússia pré revolução ou o Brasil de Vargas, eu considero que o melhor caso concreto para ajudar a pensar nossas lutas presentes é a China da virada do séc XIX para o XX.
Qual era, grosso modo, a conjuntura Chinesa na época?
- Em primeiro lugar, tinha um inimigo principal: o imperialismo e o colonialismo das potências ocidentais. Desde a guerra do Ópio, a China perdia territórios, era militarmente forçada a assinar acordos comerciais exploratórios e se afundava em dívidas. O perigo de balcanizacao e de desaparecimento da China enquanto nação era real e cada vez mais presente.
- Dado esse inimigo, a UNICA, força de massas capaz de fazer alguma oposição era a dinastia Qing. Era uma oposição que deixava muito a desejar, mas que, contando com uma diplomacia abilidosa, com o apoio de massas camponesas, e com uma política de constantemente dar os anéis ao imperialismo para não perder os dedos, conseguia, milagrosamente, manter a China ainda viva.
O problema? Esse anti-imperialismo se integrava economicamente ao próprio imperialismo e gradualmente perdia força, prestígio e territórios. A resistência dinastica ao imperialismo ocidental tinha um claro prazo de validade. Cada vez mais as potênciais ocidentais avançavam com menos reação.
E é exatamente por isso que eu acho que a situação chinesa se aproxima muito à nossa.
Havia um inimigo principal e havia um lado menos pior, que de fato continha relativamente esse inimigo principal, mas que claramente colapsava. Lhes lembra de algo? É por isso que apesar das discrepâncias (um partido de massas de origem popular não é uma dinastia decadente e o imperialismo do séc XX não se iguala ao nosso neofascismo) podemos apreender muito com a solução encontrada pelos chineses para sair dessa conjuntura.
O que eles fizeram? deslocaram a contradição principal! Tiveram a coragem de aceitar que a força majoritaria de resistência estava condenada, de aceitar que viria um tempo de trevas, e de criar no tempo presente os germes da futura força de libertação. No fim a dinastia de fato colapsou e a República formada em 1912 rapidamente se dividiu num conjunto de territórios dominados por senhores de guerra. Contudo, paralelamente e lentamente, dos meios estudantis e posteriormente camponeses, surgiu um novo nacionalismo, distinto da dinastia anterior e responsável por libertar a China em 1949.
@austra_lopiteco
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